Quando temos transtornos/doenças mentais mas somos "altamente funcionais"
Quando se fala em depressão a imagem que vem à cabeça da maioria das pessoas é de alguém profundamente triste e que passa os dias a chorar sem conseguir sair da cama. Quando se fala em ansiedade, pensa-se em alguém que treme que nem varas verdes, com medo de tudo. Quando se pensa em alguém com TPB a imagem que se forma é de alguém que é manipulador, até narcisista, que quer chamar a atenção. Mas e quando se tem algumas destas coisas, ou só uma, ou outras quaisquer?
Em inglês há uma expressão para isso: "high function" qualquer coisa. Pode ser "high functioning anxiety", "high functioning depression" ou o que quer que seja que lhe queiram acrescentar. O que é isto? Pessoas que conseguem "funcionar" em sociedade, perfeitamente integrados e que seguem as suas vidas de forma "normal" apesar de sofrerem destes transtornos. Só que o facto de parecer que está tudo bem, no exterior, não quer dizer que não há sofrimento, solidão, incompreensão. Talvez porque, aparentemente, esteja tudo "normal" é mais difícil as outras pessoas conceberem que alguém que conhecem tão bem sofra. Ainda há aquela ideia de que doença ou perturbação mental é igual a desadequação social, de pessoas que não conseguem arranjar trabalho, que não conseguem manter relações pessoais, que não conseguem fazer coisas corriqueiras como ir ao cinema, ou a um restaurante com amigos, ou ocupar cargos importantes em empresas. Claro que há pessoas que não o conseguem fazer, mas isso não é sinónimo de que NENHUMA pessoa o consiga fazer. O facto destas doenças serem invisíveis e o facto de não se falar delas abertamente contribui para o estigma e para a ignorância daqueles que, quando confrontados com elas, não sabem o que fazer e como reagir.
E como se parece alguém que sofre destas doenças e é altamente funcional? Assim:
Ser-se das pessoas mais competentes e inteligentes no local de trabalho e, ainda assim, sentir-se como o maior falhado, como uma fraude. Ser-se tão crítico e implacável consigo mesmo que, terminadas as horas do expediente, vai-se beber uns copos sozinhos para tentar adormecer a culpa dentro de si.
Perante um evento feliz, não conseguir experienciar essa felicidade. Não se sentir merecedor dessa felicidade. Perante rasgados e merecidos elogios, não os conseguir interiorizar e encaixar. Ainda assim, aceitar tudo com um sorriso rasgado enquanto se sente morrer por dentro.
Acordar de manhã sem vontade de ir trabalhar, completamente de rastos e, mesmo assim, ir para o trabalho, fazer tudo aquilo que lhe compete e mais alguma coisa, ajudar os colegas, ter conversas parvas e outras mais sérias, rir e fazer rir. Sair da empresa e deixar-se inundar por toda aquela nuvem negra que faz tão mal, mas que serve tão bem. Chegar a casa e esperar que o sono venha porque não há nada mais por que ansiar.
Ter dias produtivos em que se consegue fazer tudo e mais um par de botas, começar o dia de forma positiva, com bom humor, comer de forma saudável e, com gatilhos ou sem eles, tudo desmoronar como um castelo de cartas sem ninguém dar por isso. E esse gatilho, ou "trigger", pode ser uma palavra, um gesto, a forma como se diz, ou o que não se diz. Não é preciso serem grandes coisas, sãs as pequenas que nos vão corroendo por dentro.
Ser o trabalhador/estudante/pai/mãe exemplar e duvidar SEMPRE de nós. De tudo. De todos. E já não conseguir respirar ou pensar como deve ser e passar a noite acordado a pensar em tudo o que se fez naquele dia e no decorrer dos últimos 10 anos, a passar todos os momentos a pente fino e perceber onde é que se errou, de que forma se podia ter feito diferente, de como somos uns impostores e não merecemos nada do que temos.
Usar a desculpa de ter de ir à casa de banho só para passar 10 minutos sem ninguém à volta porque todos os sentidos estão em alerta e todos os estímulos tornam-se demasiado avassaladores. Pedir desculpa por tudo. Pedir para repetir o que a outra pessoa disse porque a ansiedade é tanta que já perdermos o fio à meada da conversa. E pedirmos desculpa outra vez.
Acordar todos os dias e fazer tudo outra vez.
E tantas outras coisas mais que podia estar aqui a elencar e nunca mais acabava este post. Aqui ficam mais algumas sugestões:
18 Secrets of People With "High Functioning" Depression
What are the signs of "high-functioning" depression and could you have it?
What "high-functioning" BPD actually "looks" like
21 Habits of people with "high-functioning" anxiety