Há dias lixados...
Há dias em que acordamos a pensar que vamos fazer mil e uma coisas. Acordamos com a disposição necessária para fazer tudo e mais alguma coisa, para finalmente atacarmos aquela lista de coisas a fazer há imenso tempo. Há dias em que nos levantamos, tomamos banho, fazemos o pequeno-almoço e sentimo-nos com toda a energia do mundo para fazer o que quisermos.
Depois almoçamos, vemos uma série enquanto comemos, arrumamos tudo, fazemos a cama, limpamos e... e a energia foi-se. Aquela pica toda com que começámos o dia esvai-se como areia por entre os dedos. Com esforço, sentamo-nos no sofá com o computador à frente, olhamos novamente para a lista de coisas que temos para fazer e cada tarefa nos parece incomensurável. Demasiado pesada para aquele momento. O mais pequeno esforço torna-se avassalador.
E aí recebemos uma mensagem de alguém de quem gostamos. Pensamos "valha-nos a existência de amigos para momentos assim!", mas a mensagem é para dar apoio, não para o receber. E sentimo-nos carentes, vazios, invisíveis. Sozinhos. Não, a outra pessoa não sabe que estamos sentados e aconchegados num monte de merda, porque se não dissermos ele também não vai adivinhar. Mas por momentos desejamos que essa pessoa (seja amiga, amigo, namorado, namorada, irmão, tia, vizinho, etc.) tenha o tamanho da nossa sensibilidade e intuição e perceba que não estamos bem. Que cada "lol" é escrito, mas não sentido. Que cada piada para ajudar a levantar a moral na outra pessoa é sentida como uma facada no peito em nós. Que só precisamos de um pouco mais de carinho, de colo, de paciência e atenção. Só que a outra pessoa nem sequer sabe como fazê-lo e, por isso, acabamos por manter o nosso vazio para nós. Porque ter uma resposta inadequada fere mais do que manter a outra pessoa na ignorância.
E assim vamos passando por entre os dias. Com música, com séries, com a escrita, enrolados no sofá com os estores descidos, porque a luz e o calor lá fora parecem cegar e queimar esta nossa existência que é, ao mesmo tempo, tão frágil e tão resiliente.