A minha mente é um bairro lixado para andar sozinha
Ao tentar encontrar um sentido para as nossas emoções, para a nossa dor, para o nosso estado de alma, recorremos a outros. À poesia, à música, à arte, aos filmes. A outros que passam ou passaram por coisas semelhantes. Precisamos dessa ligação para nos sentirmos validados, para nos sentirmos ligados, para podermos dialogar (ainda que internamente) com esses artistas que cantaram, escreveram, expressaram aquilo que sentimos e que ninguém sabe.
Este segundo confinamento tem sido infinitamente mais difícil que o primeiro. Faltam-me outlets.
Ultimamente tenho investigado mais sobre a vida de Chester Bennington. Chester era o vocalista dos Linkin Park, banda da minha adolescência e cujo primeiro álbum, "Hybrid Theory", me marcou particularmente, ou não tivesse eu 15 anos quando ele saiu - auge da adolescência, de todas as dúvidas, incertezas, rebeldias e incompreensão. Este ano, em Julho, vai fazer 4 anos que Chester se suicidou. Durante toda a vida lutou contra a dependência de drogas e álcool, lidava com vários traumas, desde o divórcio dos pais, até ao bullying na escola e abusos sexuais na infância e adolescência. Chester sofria de depressão, passou por várias reabilitações, e as letras das músicas dos Linkin Park expressavam bem toda a sua turbulência interior. Ainda que não tenha acompanhado o resto da carreira musical dos Linkin Park, foram uma banda importante para mim no início. Chester falou abertamente, várias vezes, sobre as suas vivências com a depressão e podem encontrar alguns trechos aqui e aqui. E são descrições que ainda hoje me tocam e cuja verdade ressoa dentro de mim.
Isto tudo para dizer que não sei o que procuro. Respostas para os meus dilemas? Identificação com a minha dor? Uma tentativa de me rever noutra pessoa que se expôs através da música? De estabelecer um diálogo com alguém que esteve no mesmo lugar em que eu já estive tantas vezes e tantas vezes duvidei se valia a pena continuar? Será solidão? Será cansaço? Será encontrar conforto nas palavras de outros quando as minhas me falham?
Não sei. Não tenho respostas. Só tenho questões e uma vontade de me enfiar num buraco até que tudo isto passe. De não fazer nada e de ser obrigada a mexer-me. De ser ouvida, mas de não querer falar.
E assim vamos. Desconfinando para o mundo, com os nossos monstros confinados dentro de nós. Para sempre.