A facilidade com que relativizamos o nosso sofrimento
"Ah, há pessoas que passaram por pior do que eu..."
Quantas vezes dizemos isto? Quantas vezes achamos que estamos a ser mal-agradecidos, picuinhas, "mariquinhas", porque estamos a sofrer e nos comparamos com os outros? Eu faço-o. Sou culpada disto também. Isto não ajuda em nada e só nos faz sentir mais desadequados, mais sozinhos - e até mais culpados.
Claro que o abuso, o sofrimento, é maior para umas pessoas e menor para outras. Se partires uma perna, vai doer p'ra caraças, que é para não dizer outra coisa. Mas se partires um pé, também vai doer p'ra caraças. Ambas as situações doem. Por isso, as comparações entre o nosso sofrimento e o sofrimento alheio cai em saco roto. A fractura da perna parece ser pior porque a superfície da perna é maior quando comparada com a do pé, mas isso não quer dizer que a fractura do pe é indolor. Se compararem o vosso sofrimento com o de outra pessoa, ou se a outra pessoa vos disser algo do tipo "mas o Manel passou por muito pior...", isso não vai ajudar a amenizar a vossa dor. Uma coisa não cancela a outra, não diminui a outra.
Todas as dores são válidas e têm razão de ser. Umas são mais visíveis do que as outras, mas as que são menos visíveis têm tanta razão de ser como as outras. Não se diminuam. Não se sintam culpados pela vossa dor. E não deixem que os outros façam isso com vocês.