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Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

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11 de Agosto, 2020

O sofrimento por antecipação

D.M.

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Candidatei-me para uma vaga de professora numa universidade em Londres, cuja área é a minha cara.

E os nervos, senhores? A ansiedade? Ainda nem sequer sei se fico ou não, mas e a antecipação? Pensar que se calhar fiz asneira, não me devia ter candidatado, que se calhar não me encaixo assim tanto no perfil, que se calhar faço mal em ir para fora, que não me vou adaptar, que vou falhar, que não vou saber desenrascar-me, que vai ser horrível partilhar casa em Londres com gente que não conheço, que não vou ter rede de apoio, que vou estar sozinha e que vou passar os dias a chorar, arrependida de ter feito esta escolha, que não fui talhada para a vida académica, que vão descobrir que sou péssima professora e investigadora, ainda que tenha dado provas do contrário.

Já vos disse que ainda nem sequer sei os resultados? Imaginem quando souber. E imaginem que fico.

Fuck my life...

07 de Agosto, 2020

Como ser Solteira - Não, isto não é uma Resenha

D.M.

Eu não sou muito dada a comédias românticas porque facilmente caem em vários clichés e não há paciência para tanta coisa que é tratada de forma superficial. Mas há algumas que escapam e eu até gosto, e que têm o seu lugar no meu coração, como O Amor Não Tira Férias, O Amor Acontece (de visualização obrigatória na altura do natal), A minha namorada tem amnésia (porque Adam Sandler e Drew Barrymore são tudo) e este filme de que vos quero falar: How to be Single (2016), com Dakota Johnson, Rebel Wilson, Alison Brie e Leslie Mann.

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A premissa principal deste filme é a solteirice. Alice (Dakota Johnson) é uma rapariga que acaba de ficar solteira e que tenta aproveitar esse facto ao máximo, recorrendo à amiga Robin (Rebel Wilson), e à cidade de Nova Iorque que se abre com imenso potencial para festejar esse facto, para onde Alice se muda. Este é um filme leve que aborda questões sobre os relacionamentos, de amizade e amorosos, mas também o relacionamento que temos connosco. De nós para nós. Não é um filme inovador, não rompe barreiras nem nada do género, mas hoje revi-o porque estava a dar na televisão, e relembrei-me porque gosto tanto dele.

 

Para já, tem a Rebel Wilson cujo humor espalhafatoso eu adoro. Depois, Dakota Johnson interpreta uma personagem que anda às voltas com o facto de ser solteira, sobre o que isso significa e que liberdades é que lhe são conferidas para seu usufruto. Há detalhes neste filme que eu adoro e que dizem tanto sobre ser solteira e viver sozinha, como aquele canto à janela ou nas escadas de incêndio do prédio onde Alice lê, durante a tarde, e observa as pessoas que passam na rua; quando ela concebe um mecanismo que a ajuda a abrir o fecho dos vestidos sozinha; quando caminha por Nova Iorque sozinha e descalça, ao raiar do sol. São todos estes momentos e outros tantos que me fizeram gostar do filme, porque mostra como podemos desfrutar da nossa própria companhia e que ser solteira não significa estarmos infelizes e miseráveis a comer gelado directamente da embalagem e a chorar (embora todas tenhamos os nossos momentos de Bridget Jones!).

 

Enquanto não soubermos desfrutar da nossa própria companhia e de fazermos coisas sozinhas por nós próprias, não saberemos, de facto, estar com outra pessoa. E é Alice que, já no fim do filme, diz das coisas mais verdadeiras sobre o facto de estarmos solteiras(os) e porque devemos desfrutar desses momentos, em vez de estarmos obcecadas com o ter um relacionamento amoroso:

I’ve been thinking that the time we have to be single, is really the time we have to get good at being alone. But how good at being alone do we really want to be? Isn’t there a danger that you’ll get so good at being single, so set in your ways that you’ll miss out on the chance to be with somebody great? Some people take baby steps to settle down. Some people refuse to settle at all. Sometimes, it’s not statistics. It’s just chemistry. And sometimes, just because it is over, doesn’t mean the love ends. The thing about being single is, you should cherish it. Because, in a week, or a lifetime, of being alone, you may only get one moment. One moment, when you’re not tied up in a relationship with anyone. A parent, a pet, a sibling, a friend. One moment, when you stand on your own. Really, truly single. And then… It’s gone.

 

Às vezes não é preciso muito para que um filme nos toque. Não precisa de ser uma obra prima, um dramalhão, um filme altamente filosófico e complexo. Às vezes são os filmes mais simples e despretenciosos que nos falam sobre a nossa verdade. E este, para mim, é um deles.

04 de Agosto, 2020

Cá estou, na penumbra

D.M.

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(imagem daqui)

 

Tenho andado na penumbra. Tenho caminhado levemente pelo mundo com medo de torcer um pé ou partir uma perna e que o meu coxear, por dentro, se torne evidente. Acabei o doutoramento com nota máxima. Mas continuo sem trabalho, a fazer umas poucas coisas como freelancer, na área da tradução que quase não dão para o gasto. Os meus pais ajudam-me. Leio, vejo filmes e séries, procuro trabalho, mas não sei bem para onde vou.

Ando na penumbra porque estou na penumbra. Uma vida em permanente lusco-fusco, numa transição que parece nunca passar. Parece que nunca tenho o direito a estar segura, ando sempre na corda bamba. Estou cansada, porque manter o equilíbrio é difícil. Porque estou farta desta insegurança que me acorrenta a um lugar ao qual já não pertenço. E não estou a falar do país. Nem sequer estou a falar do lugar que habito. Estou a falar, sim, desse espaço mental que parece nunca estar tranquilo, porque a segurança exterior, que neste caso é financeira, nunca existe. Nunca estou confortável, ando sempre com o depósito no mínimo, esperando que dê até ao fim da próxima viagem. Sempre à rasca. E não estou a falar de carros, porque eu nem sequer tenho carta de condução.

Cá estou, livre de covid, mas com esta maleita que é o desemprego, ainda por cima com a noção do meu potencial, a nível pessoal e académico, consciente de que pertenço à geração mais qualificada de sempre e das coisas e que gostava de fazer profissionalmente. E não só de que gostava, mas como tenho a certeza de que as faria muito bem.

Cá estou, na penumbra, a caminhar sobre ovos na esperança de que alguém note em mim, no meio de tantos CVs e cartas de motivação. O trabalho não é tudo - eu sei. Mas quando nos falta, o nada que ele cria é demasiado grande, para não ser tudo.