Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

30 de Março, 2020

Solidão, essa grande companheira das horas vagas

D.M.

pexels-photo-1217237.jpeg

(imagem de Polina Sirotina)

 

Que melhor altura para falar sobre solidão, do que esta? Muitos de nós vivemos sozinhos e podemos sentir-nos particularmente solitários nesta altura de confinamento e isolamento social. E, embora haja pessoas que não se sentem particularmente sozinhas, há outras que sim. Por isso, vamos falar um pouco sobre este tema hoje.

 

O ser humano é um ser social. Precisamos de interagir com outras pessoas, mesmo que sejam coisas pequenas: com o homem da mercearia, do café, dos correios... Precisamos de contacto humano e de um espaço social onde nos sentimos incluidos. Mas, por vezes, isso não acontece e sentimo-nos sozinhos. Porque há uma diferença entre estar e sentir: o estarmos sozinhos não significa que estejamos solitários. Há pessoas que vivem bem assim, que não se sentem sozinhas apesar de estarem sozinhas. E há pessoas que vivem acompanhadas e que se sentem sozinhas pelas mais variadas razões. 

 

Mas será a solidão um problema de saúde mental? Não, mas ambas estão ligadas. Por um lado, a solidão pode exacerbar problemas como a ansiedade e a depressão. Por outro, o ter uma doença mental pode fazer com que nos sintamos sozinhos. A solidão pode provocar, ainda, problemas a nível da auto-estima, dificuldade em dormir e aumento de stress, o que depois acaba por se tornar num ciclo vicioso de sentimentos negativos do qual parece que não conseguimos sair. A solidão está associada, também, a um maior risco de se sofrer de várias doenças psiquiátricas, como a depressão, o abuso de substâncias, Alzheimer, mas também a várias outras doenças, como a diabetes, doenças cardíacas, hipertensão e obesidade. 

 

Calma! Se vocês se sentem assim, não significa obrigatoriamente que vão sofrer disto tudo!

 

A solidão também parece estar associada a pessoas que se encaixam em determinados grupos, como por exemplo: pessoas que não têm família nem amigos; pais e mães solteiros; pessoas que cortaram, por algum motivo, relações familiares; pessoas que sofrem algum tipo de descriminação, seja mental, física, sexual, racial, religiosa ou outra; pessoas em situação de pobreza e que, por isso, são excluídas de certas actividades sociais; vítimas de negligência e abuso sexual, uma vez que lhes será mais difícil estabelecer relações próximas com outras pessoas; pessoas que mudam muitas vezes de casa ou de escola. 

 

O que é a solidão, então? É quando as nossas necessidades sociais não são cumpridas. É quando queremos uma ligação emocional com alguém e não a temos. É quando queremos e precisamos de contacto social e não o alcançamos. É quando uma relação se desmorona e caímos no vazio deixado por aquela pessoa. É quando as paredes nos gritam aos ouvidos no silêncio da noite, e mais ninguém ouve a não sermos nós. Para mim, a solidão é isto e às vezes não consigo fugir dela.

 

É normal sentirmo-nos sozinhos de tempos a tempos e perante determinadas situações da vida. Quando saí de casa para viver sozinha, essa solidão era mais marcante, mas aprendi a viver com ela e a conseguir contorná-la a maior parte das vezes. Como? Falando comigo, interiormente, de forma a reconhecer essa solidão, essa carência, essa tristeza, percebendo qual é a origem, aceitá-la, nunca me culpando nem caindo no registo de auto-comiseração, e pondo-me o mais confortável possível para ela passar. E fazer o que me apetecesse. Se fosse chorar durante meia hora, chorava. Se fosse ver televisão da treta, que fosse. O dia todo. Ler, fazer a catarse através da música, escrever, procurar artigos na net sobre o tema para perceber que não sou a única assim e que isto é mais comum do que se pensa. A partir do momento em que este sistema está enraizado, a coisa torna-se mais fácil. Não, a solidão não deixou de aparecer. Mas agora, em vez de ficar assustada, convido-a para entrar, beber um chá e comer umas bolachas, ela fica o tempo que for preciso comigo a ver as Kardashians na tv e depois vai-se embora. E sinto até que sai mais fortalecida destes momentos, porque fico a conhecer-me melhor, porque os enfrento sem medos e fico a saber do que sou capaz. E isso é impagável, meus caros.

 

Nestes dias atípicos que estamos a viver, ficar em casa tem sido um consolo, confesso. Adoro estar em casa a ouvir música e a ler, a fazer as coisas ao meu ritmo. Até o trabalho me corre melhor! Mas confesso que não ver, presencialmente, as pessoas de quem gosto é muito estranho. Falo todos os dias com a família e com amigos, mas não estar com ninguém, estar isolada nesse sentido, é muito estranho. E fez-me perceber a falta que nos fazem as pessoas. Os seus corpos, a sua energia, as suas vozes, os seus trejeitos típicos. Mas esta é uma fase que acredito que vamos ultrapassar e que vai ficar tudo bem.

 

Nos entretantos... Olhem, nos entretantos vou escrevendo por aqui, vou falando convosco através do podcast. Afinal, estamos sozinhos juntos.

 

28 de Março, 2020

Marbles, de Ellen Forney: O Transtorno Bipolar em BD

D.M.

Olá a todos! Este post já era para ter sido publicado ontem, mas olhem... É a vida!

13542990.jpg

Hoje venho falar-vos de um livro que li a semana passada. Marbles: Mania, Depression, Michelangelo and Me, da autora Ellen Forney. O livro é uma autobiografia da autora que é ilustradora e, por isso, é em formato BD. Nesta obra, Forney conta-nos da sua jornada com o transtorno bipolar a partir do momento em que é diagnosticada, já com 30 anos. Aqui, vemos os seus altos e baixos, a sua luta até encontrar a medicação certa que funcione, as suas próprias pesquisas sobre a doença, para perceber o que é, como se manifesta, e entender-se a si própria. Uma das coisas que mais gostei foi da abordagem sobre a suposta ligação entre a doença mental e a criatividade. Sendo ela uma artista, o grande receio de Forney era o da possibilidade da medicação a estabilizasse de tal forma que a criatividade se esvaisse dela. Dando exemplos de pintores, escritores, músicos, Forney começa a sua tentativa de perceber se essa ligação realmente existe, se o conceito de artista "louco" é legítimo, e de que forma o "ficar bem" pode, ou não, influenciar a sua faceta mais criativa.

 

Gostei muito deste livro porque a autora oferece uma visão pessoal sobre a doença. O facto de estar em formato BD ajuda, na minha perspectiva, a termos uma melhor noção do que é lidar com este transtorno, porque nos dá uma componente visual que nos ajuda a perceber a vida de alguém que é bipolar. Aconselho a todos os que querem saber mais sobre a doença, porque para além de ser uma perspectiva pessoal, também é informativa, uma vez que Forney inclui as suas pesquisas sobre o assunto no livro, desde a referência a artigos, ao DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), à explicação dos seus sintomas, do que faz cada medicação... Em suma, é um livro muito completo sobre o que significa viver com transtorno bipolar.

 

Por enquanto, não está publicado em português (infelizmente), mas podem comprá-lo online.

25 de Março, 2020

Podcast #1 - Quarentena, Ansiedade e Livros

D.M.

Olá pessoal!

Benvindos ao primeiro episódio do podcast. Hoje falo-vos da quarentena, de como estou a aguentar, de ansiedade e de um livro que li sobre transtorno bipolar. Em breve poderão ouvi-lo também em outras plataformas que aqui listarei em baixo.

Ouçam, partilhem e digam-me de vossa justiça!

 

O podcast está disponível nas seguintes plataformas:

Podbean

RadioPublic

Breaker

Spotify

Apple Podcasts

 

Podem subscrever, também, via RSS.

24 de Março, 2020

Lançamento do Podcast - "Isso é tudo Psicológico!"

D.M.

Lembram-se de eu dizer que ia criar um podcast sobre saúde mental?...

O PRIMEIRO EPISÓDIO SAI AMANHÃ!!!

Logo podcast-2.png

Estou tão entusiasmada! Decidi chamar-lhe "Isso é tudo psicológico!" porque, convenhamos... Quantas vezes já ouvimos esta frase? As pessoas acham mesmo que nós não sabemos quando estamos a ser condicionados pelo nosso estado psicológico ou pelos nossos transtornos mentais? A sério?

 

Por isso, estejam atentos! Sairá amanhã de manhã, irei colocá-lo aqui também, anunciarei nas redes sociais (quem não me segue no Facebook e no Instagram está à espera do quê?), e em princípio vão poder ouvi-lo também através de outras plataformas, nomeadamente o Spotify. Mas amanhã irei colocar mais pormenores no post com o primeiro episódio. Como estamos quase todos em isolamento social, vou falar um pouco disso.

 

Ficam avisados! 

 

(Se quiserem apoiar este projecto e ter acesso exclusivo a mais conteúdo, podem fazê-lo através do Patreon)

23 de Março, 2020

Endometriose e Ansiedade - Sim, uma doença física influencia a saúde mental

D.M.

Março é o mês da consciencialização da Endometriose, uma doença que acomete milhares de mulheres sem, muitas vezes, elas próprias saberem. Eu sou uma delas e venho falar-vos um pouco não só de endometriose, mas como ela pode ter impacto na saúde mental da mulher. Porque as doenças físicas têm impacto SIM na saúde mental de cada um. Seja ela qual for.

 

Antes disso, quero só relembrar: eu não sou médica, não sou efermeira, não pretendo armar-me em especialista sobre o assunto. O que aqui quero fazer é partilhar conhecimento sobre o assunto baseando-me naquilo que li, nas consultas com os meus médicos e na minha experiência pessoal. Se acham que este post tem demasiadas coincidências com aquilo que vocês próprias experienciam todos os meses, então ide ao médico e não saiam de lá até se sentirem esclarecidas e ouvidas. Se isso não acontecer, mudem de médico como eu fiz. Não vou dar dicas de medicamentos, tratamentos, nem nada do género, se é isso que estão à espera de ler.

 

Bom, primeiro comecemos por uma lição básica de anatomia feminina. "Ai, credo! Vai haver bonecos das miudezas?!" Yep. Vai haver bonecos. Tomem lá o primeiro:

utero1.jpg

(imagem daqui)

Olhem que beleza! Este é o nosso útero. Para ser o mais simples e clara possível, vamos dizer que o endométrio é a parte cor-de-rosa escura e o miométrio é a parte cor-de-rosa clara. O endométrio é o tecido que reveste toda a parede interna do útero. É onde os embriões se instalam depois de serem fecundados, é onde eles crescem e é este tecido que é renovado todos os meses durante a menstruação. Já o miométrio é a parte exterior da parede uterina composto basicamente por músculo, responsável pela capacidade de aumento do útero durante a gravidez.

 

ENTÃO O QUE É A ENDOMETRIOSE?

endometriose.jpg

(imagem daqui)

A Endometriose, em termos muito simples, é quando pedaços do tecido do endométrio (cor-de-rosa escuro) se alojam em outras partes do corpo. As mais comuns: ovários, ligamentos que sustentam o útero, bexiga, intestinos, espaço entre o recto e a vagina, ureteres e rins. Como é que sabemos que a temos? Aqui é que entra a parte complicada, porque varia de mulher para mulher. Há mulheres que têm dores ligeiras, há mulheres que nem se conseguem levantar da cama. De qualquer forma, a mensagem a reter é: se têm dores menstruais, incapacitantes ou não, que vos deixam desconfortáveis, de rastos e impossibilitadas de fazerem coisas mundanas do dia-a-dia e que parecem afectar outras funções corporais, não vos deixem que digam que é normal. NÃO É NORMAL TER DORES! Então, mas que dores podem dar?

 

Na Endometriose os sintomas dependem dos locais onde têm tecido endometrial. Por exemplo, se o tiverem no intestino ou no reto, é natural que também tenham prisão de ventre, dor ao evacuar e sangramento rectal. Se houver na bexiga, pode haver dor acima do osso púbico, dor a urinar e, por vezes, haver sangue na urina também. Por vezes pode ocorrer sangramento fora do período menstrual, conhecido como spotting, embora este não seja sinónimo de endometriose ou adenomiose. O spotting pode ter outras origens, embora seja comum para quem tenha uma das condições de que estou a falar aqui. Acho que vale a pena referir, embora não me vá alongar muito porque não tenho conhecimento suficiente sobre isso, que a endometriose pode comprometer a fertilidade da mulher, causando problemas na altura de engravidar. Muitas mulheres descobrem que têm endometriose, precisamente, quando têm dificuldade em engravidar e começam a fazer exames. Embora endometriose não seja sinónimo de infertilidade, a verdade é que pode dificultar todo o processo.

 

EXPERIÊNCIA PESSOAL

 

Eu acho que tive umas três ginecologistas antes de acertar. Todas me diziam que era normal ter dores menstruais, aconselhavam-me a tomar um ben-u-ron ou um brufen, pôr um saco de água quente na barriga e que tudo ficava bem. Só que não! Entretanto, quando comecei a ter consultas com a minha actual ginecologista, contei-lhe a minha história toda outra vez e eis que ela diz: "Hum... isso não é normal. Vamos fazer uns exames." Acho que foi a primeira vez que fiquei feliz por ir fazer exames - análises ao sangue, ecografias e ressonância magnética.

 

Em termos de sintomas, no meu caso, eu incho ao ponto de não conseguir apertar os botões das calças de ganga e pareço que estou nos primeiros meses de gravidez. Mesmo tomando a pílula, o meu período dura à volta de 7 dias, tenho imensas cólicas que não passam com um simples ben-u-ron ou Brufen 200. Ou Brufen 400. Aliás, se eu pudesse ficar na cama em posição fetal durante esses dias, seria o ideal. Começo a chorar baixinho dentro da minha cabeça sempre que penso que tenho de ir à casa-de-banho fazer o nº2, porque tenho dores horríveis e passo lá largos períodos de tempo (já que estamos assim a partilhar informação aqui que ninguém nos ouve). Para terem uma noção, há alturas em que não sei se estou a ter cólicas menstruais ou cólicas intestinais. Também tenho dores no osso pélvico quando vou fazer xixi e passo a vida cansada.

 

IMPACTO NA SAÚDE MENTAL

 

É claro que tudo isto tem impacto na saúde mental de uma pessoa. No meu caso, em primeiro lugar pensei que fosse louca, porque queixava-me aos médicos e todos diziam que era normal. Por isso, acabava sempre por duvidar de mim: "Caraças, estarei a exagerar? Será que estou a ser mariquinhas? Será que todas as mulheres sentem isto e estou a ser queixinhas?" Às vezes até evitava falar do assunto a outras pessoas, porque receio de que não me fossem compreender e que relativizassem o que eu sentia.

 

Depois, para além destas dúvidas, a minha ansiedade disparava nos dias antes de ter o período porque era sempre uma incógnita: será que vou ter dores? Muitas? Poucas? Será que não vai doer nada? Será que vai doer dois ou três dias? Uma semana? Era muito complicado gerir o resto da minha vida, porque a vinda do período acabava por ser o meu foco. A minha atenção ia toda para esse momento e organizava a minha vida tendo em conta esses dias. Porque sabia que não ia conseguir sair de casa, ir passear. Ia ficar cansada muito depressa, com pouca capacidade de atenção, de mau humor, com dores e desconfortável. Por isso, se pudesse ficar em casa todos esses dias, era o que eu fazia. E não, não é TPM. É uma condição física que condiciona o nosso estado mental. E já não me bastava o cansaço físico, tinha também que lidar com o cansaço mental que vinha de toda esta situação. Além disso, ficava irritada com muito mais facilidade, ia-me abaixo por causa de tudo o que eu sentia a nível físico que me dava dores horríveis e só queria que se abrisse um buraco na terra para eu me enfia lá até que as dores passassem. Era um desgaste físico e emocional bastante grande.

 

Como é que estou a gerir tudo hoje em dia? Por conselho do médico mudei para uma pílula diferente, mais adequada, e só menstruo a cada 4 ou 5 meses (não, não há risco para a saúde da mulher não menstruar quando está a tomar a pílula sem interrupção), e quando menstruo ando sempre munida de anti-inflamatórios e analgésicos. A mudança de pílula e as menstruações mais espaçadas têm, de facto, ajudado, uma vez que quando chega a essa altura, as minhas queixas não são tão severas como quando eram no início. Sei que isto faz confusão a muita gente, mas é recomendação do médico, tem resultado e não faz mal nenhum. 

 

Agora as coisas estão melhores e consigo entender o que tenho e agir com conhecimento. Espero que todas nós consigamos exigir o direito de sermos ouvidas e levadas a sério quando dizemos que algo nos está a afectar e que não achamos normal. Afinal, eu só fui diagnosticada por volta dos 30 anos. É preciso falar sobre isto, é preciso informação, esclarecimento, partilha para que nenhuma mulher sofra em silêncio.

 

(Se quiserem apoiar este projecto e ter acesso exclusivo a mais conteúdo, podem fazê-lo através do Patreon)

20 de Março, 2020

Empatia - O que é?

D.M.

habitos-empatia-fb-awebic-.jpg

(imagem daqui)

 

Fala-se muito em empatia, hoje em dia. Anda nas bocas do mundo. Todos deveriam ter, cada vez mais, de forma a compreender o outro. Mas afinal, o que é a empatia?

 

De forma resumida, empatia é saber colocar-se no lugar do outro. Ouvir atentamente e, ainda que se possa não compreender completamente a outra pessoa, comprometermo-nos em ajudá-la e fazer-lhe companhia ali. No entanto, a empatia não é uma emoção, é uma capacidade cognitiva e afectiva que é adquirida ao longo da vida, conforme vamos lidando e cuidando dos outros. É, ainda, uma forma de inteligência emocional que tem a ver com a capacidade de compreender a perspectiva das outras pessoas, bem como com a habilidade de experienciar reacções emocionais através da observação da experiência dos outros.

 

A empatia envolve, ainda, três elementos: afectivo, cognitivo e de regulador de emoções. O que é que isso quer dizer?

 

A parte afectiva tem a ver com a partilha e a compreensão dos estados emocionais de outros. Por exemplo: alguém partilha comigo que lhe morreu o cão e está super em baixo, muito triste com isso. Eu nunca perdi um animal de estimação, então na prática eu não sei, especificamente, o que é estar naquela situação. Mas eu conheço o sentimento de perda, de tristeza, de vazio que fica depois de perdermos alguém especial. Então eu vou ligar-me à dor dessa pessoa através desse meu conhecimento. Vou ouvi-la e tentar confortá-la baseando-me naquilo que eu sei, aceitando e validando a sua dor.

 

A componente cognitiva tem a ver com a capacidade de percepção dos estados mentais de outras pessoas. Ou seja, perante uma situação, um comentário ou ponto de vista, conseguir perceber os processos mentais que fizeram a outra pessoa chegar ali, ainda que possamos concordar ou não, e, por isso, esta é uma componente mais racional e lógica.

 

Já a componente da regulação de emoções tem a ver com o grau das respostas empáticas, ou seja, com a capacidade de inibir ou permitir as respostas empáticas, de forma a que sejam adequadas às várias situações do quotidiano. É perceber e identificar as emoções do outro perante diversas circunstâncias e adaptar as nossas próprias emoções perante elas, percebendo se alguma emoção é adequada ou não perante aquela pessoa específica. Permite-nos identificar uma determinada situação e avaliar qual será a melhor reacção. Por exemplo: quando alguém morre, ainda que possamos não ter uma grande relação afectiva com a pessoa que faleceu, sabemos que não se vai para um funeral dizer piadas, falar mal ou deitar foguetes. Adoptamos uma postura sóbria, compreendendo a dor das pessoas que ali estão,  e percebendo que tipo de reacção se adequa àquela situação em particular.

 

A empatia envolve, assim, um autoconhecimento profundo, de forma a conseguir aceder a essas experiências e emoções para se conectar com a outra pessoa. Para se pôr no lugar dela de forma humilde e, assim, poder ajudá-la e ouvi-la de forma plena. Assim, só é possível criar ligações genuínas com outras pessoas se nós próprios tivermos a coragem de entrar em contacto com as nossas próprias fragilidades e vulnerabilidades, ainda que isso nos possa assustar. Por isso é que é tão importante a empatia e porque ela faz falta a tanta gente. O mundo seria, certamente, melhor se mais pessoas praticassem a empatia com maior frequência e esquecessem o ego por alguns momentos.

 

A Brené Brown (se não conhecem, deviam conhecer!) tem um vídeo em que esclarece muito bem o que é a empatia. Deixo-vos o vídeo aqui abaixo. Está legendado em português, basta activarem as legendas no vídeo.

 

(Se quiserem apoiar este projecto e ter acesso exclusivo a mais conteúdo, podem fazê-lo através do Patreon)

16 de Março, 2020

Quando o Covid-19 nos obriga a trabalhar a partir de casa - e isso faz bem à nossa mente

D.M.

Untitled design.png

Com a pandemia do Covid-19, grande parte das pessoas está a trabalhar a partir de casa, incluindo eu. Todos sabemos que é importante para se tentar controlar o contágio, para nos mantermos a nós e aos outros mais seguros. Para alguém que sofre de ansiedade generalizada e ansiedade social, isto foi música para os meus ouvidos e fez-me pensar numa coisa: se perante um vírus que ameaça a população se aplicam medidas de carácter excepcional para bem de todos nós, porque é que os vários empregadores não estão mais sensibilizados para quando nós, que sofremos de transtornos mentais, precisamos de ficar em casa a trabalhar remotamente?

 

Já me aconteceu várias vezes ter de inventar uma desculpa física para poder ficar em casa, quando na realidade a razão era o meu estado mental e emocional. Porque é mais fácil ligar e dizer que não se vai trabalhar porque se passou mal a noite, do que dizer que não se consegue ir porque estamos demasiado ansiosos, ou porque não conseguimos sair da cama, ou porque estamos tão no limite que ir trabalhar só nos vai fazer entrar numa espiral descendente.

 

O trabalho a partir de casa, quando isso é possível, devia ser equacionado e posto ao serviço de quem precisa, sem termos vergonha ou sentirmos que somos mais fracos. Mas numa sociedade em que a maioria das pessoas não revela ao seu empregador que sofre de um qualquer transtorno mental, ainda mais difícil é justificar o porquê de não conseguirmos ir trabalhar, ou porque não estamos a conseguir fazer tanta coisa naquele dia, porque andamos mais nervosos, distraídos, de cabeça baixa. Mas nestes momentos, o trabalho a partir de casa podia ser tão benéfico e às vezes bastam um ou dois dias para nos podermos recalibrar.

 

É necessário tornar a saúde mental uma prioridade e um foco maior, porque daqui beneficiariam tanto os empregados como empregadores. Penso que as empresas que dessem aos empregados a opção desta flexibilidade estariam a apoiar a saúde mental de quem empregam e, provavelmente, aumentariam a sua produtividade, contribuindo para uma cultura de abertura em relação à saúde mental. Iria ajudar a aliviar a pressão e o stress que todos sofremos nos nossos trabalhos e isso não é fraqueza. Somos mais sensíveis e vulneráveis, sim. Mas não somos fracos. Somos fortes! Fortes por enfrentarmos isto, muitas vezes, em silêncio, sem que ninguém desconfie. Por nos levantarmos todos os dias e ir trabalhar durante 8, 9, 10 horas, mais uma ou duas horas em trânsito ou transportes, por levarmos connosco o peso do mundo e, ainda assim, não nos queixamos. Não dizemos nada. 

 

É de louvar esta medida tomada pelo governo, mas ela também devia ser considerada para pessoas que sofram com a sua saúde mental. E isto não são baixas. Porque, como disse, por vezes basta um dia ou dois para ficarmos melhor, e continuaríamos a trabalhar, só que a partir de casa. Num local seguro, mais confortável, com menos estímulos e com maior flexibilidade de organização do nosso dia. São gestos destes que ajudam tanto e que valiam tão a pena serem considerados e aplicados.

 

Quem mais por aí está a trabalhar a partir de casa e contente por assim o ser?  

 

(Se quiserem apoiar este projecto e ter acesso exclusivo a mais conteúdo, podem fazê-lo através do Patreon)

12 de Março, 2020

Vamos levar a discussão sobre saúde mental a outro nível - Bora?

D.M.

Sensivel.png

Decidi criar uma conta no Patreon. Sabem o que é?

O Patreon é uma plataforma onde criadores de conteúdo podem ser apoiados directamente pelos seus seguidores e estes, por sua vez, têm acesso a conteúdos exclusivos. O que isto significa em termos práticos é que quero apostar de forma mais forte e assídua na produção de conteúdos ligados à saúde mental, trazê-la para as bocas do mundo, e através do Patreon podem apoiar-me directamente nisso, uma vez que gostava de fazer disto a minha actividade full-time, neste projecto que é tão especial para mim.

 

Este blog vai continuar a existir, irei continuar a escrever aqui, mas agora têm o complemento com o meu perfil no Patreon. Se forem patronos e contribuírem com o mínimo dos mínimos, podem ter acesso a outros textos e outras benesses que estão lá bem explicadinhas. É uma plataforma fidedigna, séria, sem trafulhices à mistura, e podem desistir de serem patronos a qualquer momento, sem problema 

 

Assim, através desta plataforma podem apoiar o blog e, futuramente, a criação de um podcast! Estou a pensar em alguns temas, tenho de comprar um microfone próprio e creio poder lançar o primeiro episódio já na primeira semana de Abril. Serão devidamente avisados, claro!

 

Ao serem patronos, desbloqueiam conteúdos que irei criar só para vocês, desde textos que escreverei por lá, pequenos vídeos, questões para discussão e até sugestão de tópicos e perguntas a que responderei no podcast. Qualquer contribuição, por mais simbólica que seja, será bem-vinda e estarei profundamente grata a todos 

 

Ide lá dar uma olhadela no meu perfil, aqui: https://www.patreon.com/sensivelmente

 

Qualquer dúvida ou questão, podem enviar-me um mail para: sensivel.mente@sapo.pt

 

Estou muito motivada para esta nova fase do blog e, no fundo, da minha vida, e quero muito levar-vos nela também! Vamos? 

10 de Março, 2020

Então e um podcast?

D.M.

images.jpeg

 

Pessoal, tenho uma pergunta para vossas excelências: gostariam que eu fizesse um podcast como complemento ao blog? Há uns tempos que tenho esta ideia, mas antes de a concretizar, gostava de saber a vossa opinião. Isso não significa que vou descurar o blog. NUNCA! Seria mais um complemento e o assunto seria o mesmo: saúde mental, vida de solteira, divagações minhas sobre estes assuntos.

 

Sejam seguidores assíduos por aqui ou não, podem responder ao meu inquérito, por favor? Gostava MESMO de saber o que vocês pensam. E partilhem com pessoas que possam estar interessadas!

 

Obrigada 

Pág. 1/2