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Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

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27 de Maio, 2019

Sintomas Físicos da Ansiedade

D.M.

sintomas-fisicos-de-ansiedade.jpg

(imagem daqui)

Mente sã em corpo são, certo? Esta frase tem uma razão de ser e essa razão é porque quando a nossa mente não está bem, o corpo ressente-se. A maior parte das pessoas não sabe que algumas manifestações do nosso corpo são provocadas pela ansiedade, por exemplo, e por vezes até é por meio da desculpa destes desarranjos físicos que conseguimos alguma empatia por parte dos outros! É mais aceitável ou compreensível para alguns dizer que passei a noite maldisposta porque comi uma coisa estragada, do que dizer que estive maldisposta porque tenho a ansiedade ao máximo. Por isso, aqui estou eu para partilhar alguns dos sintomas físicos que se manifestam em mim quando estou a ter uma crise de ansiedade. Vale a pena relembrar que tenho Transtorno de Ansiedade Generalizada e, por isso, estou sempre em alerta e com os níveis de ansiedade maiores do que qualquer outra pessoa.

  1. Diarreia - Sim, vamos já despachar a conversa do cócó. É dos sintomas mais comuns, mesmo quem não tem nenhuma perturbação de ansiedade. Em momentos de maior stress ou quando se está mais nervoso, os intestinos são dos primeiros órgãos a manifestar-se. Isto acontece porque a maior parte do nosso sistema nervoso está nos intestinos e porque numa situação de "fight or flight", os nossos intestinos contraem-se provocando diarreia. Esta é uma resposta programada do nosso cérebro, desde os tempos em que os nossos antepassados tinham de fugir de animais selvagens para sobreviver. 
  2. Falta de apetite - Comigo, quando estou MESMO ansiosa, não consigo comer. E quando digo isto, não quero dizer comer menos ou faltar uma refeição. Quero dizer que não consigo comer durante um dia inteiro. Passo o pequeno almoço, o almoço, o lanche e com sorte ao jantar lá consigo comer qualquer coisa, mas pouco. Lá me vou aguentando com um sumo ou dois durante o dia, mas só isso. Fico com um nó no estômago e não há comida que entre - às vezes fico enjoada só de sentir o cheiro de comida.
  3. Transpirar excessivamente - Sinto literalmente água a escorrer-me pelas costas, nas mãos e à noite às vezes tenho suores frios. Só acalmo quando molho algumas zonas do corpo que ajudam a diminuir a temperatura corporal: atrás do pescoço, ombros, braços, costas.
  4. Tremores - Sinto-me a tremer que nem varas verdes mesmo que não se veja. Tremo especialmente das mãos e no caso das pernas tenho que me concentrar para não perder o equilíbrio, tropeçar ou andar descompassadamente.
  5. Tensão muscular - Todo o meu corpo se contrai com a tensão que vou acumulando por causa da ansiedade. Os meus pontos fracos são os ombros, o pescoço e os maxilares - sim, por vezes passo o dia todo a contrair os maxilares e só dou por isso quando relaxo e me começam a doer.
  6. Respiração e batimentos cardíacos acelerados - Ambos estão ligados. Respiração ofegante, coração acelerado, tonturas, isto acontece porque em situações que nos são stressantes o nosso corpo produz mais adrenalina e cortisol, fazendo com que o coração acelere. Quanto à respiração, por consequência do aceleramento do coração também os pulmões começam a trabalhar mais rápido e começamos a hiperventilar.
  7. Fadiga - Ora, passarmos o dia ou dias inteiros a sentir todas estas coisas ao mesmo tempo vai fazer com que sintamos que fomos atropelados por um autocarro. E quando acalmamos e a ansiedade passa, o nosso corpo ressente-se e vamos fisicamente abaixo.
  8. Alterações no sono - Apesar de me cansar facilmente, quando chega a noite torna-se difícil adormecer porque a mente não pára a rever situações passadas. Parece um contrasenso, mas é verdade: quanto maior a ansiedade, mais cansados ficamos e menos conseguimos dormir.

 

Por isso, lembrem-se disto sempre que sentirem o impulso de dizer a alguém "isso está tudo na tua cabeça!". Não está! Está também no nosso corpo que se manifesta quando estamos ansiosos. Porque a mente influencia o corpo e vice-versa. Sugiro, ainda, estes links que falam também deste assunto:

10 Anxiety symptoms that affect our body, because it's not all mental

The effects of anxiety on the body

16 de Maio, 2019

Sentimentos confusos em relação aos pais

D.M.

Pais_ não se pode viver sem eles, não se consegu

 

Numa grande parte do mundo, o dia 12 de Maio é o dia da mãe. Uma vez que acompanho e sigo muitas contas de instagram e blogs/sites anglo-saxónicos (ver as minhas redes sociais ali do lado direito --> ), deparei-me com vários posts sobre a celebração do dia da mãe. A relação que temos com os nossos pais molda-nos para muita coisa na nossa vida, desde a forma como nos relacionamos com os outros, às nossas crenças sobre nós próprios, à forma como encaramos e nos colocamos no mundo. Por vezes a relação com eles pode ser problemática, confusa e muitas vezes acabamos por sentir culpa ou vergonha em relação ao que sentimos. E nisto, guardei este post que achei tão pertinente e passo a traduzir aqui:

 

"Aqui vai uma palavra de apreciação para aqueles que, como eu, têm pais que os amam mas que são buracos negros de trabalho emocional... Demorei bastante tempo a perceber que podemos ter sentimentos contraditórios em relação aos nossos pais, sobre a relação que temos com eles.

Às vezes, os pais podem amar-te e serem ao mesmo tempo tóxicos para ti e para o teu crescimento, e isso é uma verdade dura a que se chega se, como eu, cresceste com uma relação bastante próxima com eles. 

Às vezes, os pais podem amar-te genuinamente, mas pode faltar-lhes maturidade emocional, forçando-te a desempenhar uma quantidade desproporcional de trabalho emocional. Alguns pais manifestam sintomas das suas próprias doenças mentais que é prejudicial e tóxica para a tua própria saúde mental.

Alguns pais, como os meus, tentam tanto ser bons pais, mas acabam por ceder a hábitos de manipulação emocional porque eles próprios não processaram os seus traumas e acabam por perpetuar os modelos de comportamentos com que cresceram. Isso não faz com que os seus comportamentos sejam aceitáveis, e têm o direito de se sentirem exaustos ou magoados quando eles vos traem. Não têm que perdoar todos os seus erros.

Quero que saibam que não há problema em protegerem-se, em precisar de algum tempo afastados deles. O amor que têm pelos vossos pais continua a ser válido e estão a tomar a decisão certa.

Colocar uma distância segura entre mim própria e os meus pais tem sido um dos processos mais difíceis e desoladores pelos quais já passei... Dói tentar refrear a força da tua empatia natural em relação às pessoas que amas. Parece desonesto para o estado natural do coração.

Mas prometo-vos, não estão a ser insensíveis ou ingratos, nem estão a abandoná-los. Estão a tomar uma decisão em relação à vossa saúde emocional, mental e espiritual.

Sei o que é estar nessa área cinzenta e confusa do amor misturado com culpa e ansiedade, de exaustão e quase manipulação, e de trabalho emocional que não é recíproco, mas prometo-vos, não estão sozinhos."

 

Se isto ressoa dentro de vocês, como podem ver, não estão sozinhos! E não têm de sentir vergonha em relação ao que sentem. Tudo tem uma razão de ser, não aparece por acaso, e a relação que temos com a nossa família pode ser ambígua, confusa, cheia de sentimentos contraditórios. Eu própria os tenho! Se cresceram com pais ou com um dos vossos pais que foi emocionalmente ausente, mas que, ainda assim, vos ama de todo o coração; se eles passaram por traumas não resolvidos ou têm, eles próprios, alguma doença mental; se nunca vos faltou nada na saúde, educação, bens materiais, mas não tiveram o suporte emocional que precisaram; se nunca foram mal-tratados, abandonados, mas ainda assim foram sentem que foram emocionalmente manipulados ou negligenciados - este post é para vocês. O que sentem é real e válido. Podem amar os vossos pais e sentirem-se assim com toda a razão do mundo! Como uma vez ouvi num podcast:

"Os teus pais não eram monstros, não eram pessoas más, mas falharam-te."

(The Mental Illness Happy Hour Podcast - Ep. 280 "My Parents Failed Me")

13 de Maio, 2019

Em breve de volta à programação habitual

D.M.

Pois que tenho andado meio adoentada com alergias - esta coisa de estar fresco e depois muito calor e fresco outra vez, com altos níveis de pólen no ar não é lá grande coisa. A modos que o meu cérebro tem andado meio enevoado no meio de anti-histamínicos, anti-inflamatórios, sprays e coisas que tais, para além de, na semana passada, ter havido uma conferência de três dias na faculdade onde estudo e trabalho, o que mal me deu tempo para respirar ou ir à casa de banho (true-story!), quanto mais vir aqui escrever posts! No entanto, esta semana pretendo voltar à programação habitual, por isso: me aguardem! 

07 de Maio, 2019

Quando temos transtornos/doenças mentais mas somos "altamente funcionais"

D.M.

Quando se fala em depressão a imagem que vem à cabeça da maioria das pessoas é de alguém profundamente triste e que passa os dias a chorar sem conseguir sair da cama. Quando se fala em ansiedade, pensa-se em alguém que treme que nem varas verdes, com medo de tudo. Quando se pensa em alguém com TPB a imagem que se forma é de alguém que é manipulador, até narcisista, que quer chamar a atenção. Mas e quando se tem algumas destas coisas, ou só uma, ou outras quaisquer?

 

Em inglês há uma expressão para isso: "high function" qualquer coisa. Pode ser "high functioning anxiety", "high functioning depression" ou o que quer que seja que lhe queiram acrescentar. O que é isto? Pessoas que conseguem "funcionar" em sociedade, perfeitamente integrados e que seguem as suas vidas de forma "normal" apesar de sofrerem destes transtornos. Só que o facto de parecer que está tudo bem, no exterior, não quer dizer que não há sofrimento, solidão, incompreensão. Talvez porque, aparentemente, esteja tudo "normal" é mais difícil as outras pessoas conceberem que alguém que conhecem tão bem sofra. Ainda há aquela ideia de que doença ou perturbação mental é igual a desadequação social, de pessoas que não conseguem arranjar trabalho, que não conseguem manter relações pessoais, que não conseguem fazer coisas corriqueiras como ir ao cinema, ou a um restaurante com amigos, ou ocupar cargos importantes em empresas. Claro que há pessoas que não o conseguem fazer, mas isso não é sinónimo de que NENHUMA pessoa o consiga fazer. O facto destas doenças serem invisíveis e o facto de não se falar delas abertamente contribui para o estigma e para a ignorância daqueles que, quando confrontados com elas, não sabem o que fazer e como reagir. 

 

E como se parece alguém que sofre destas doenças e é altamente funcional? Assim:

Ser-se das pessoas mais competentes e inteligentes no local de trabalho e, ainda assim, sentir-se como o maior falhado, como uma fraude. Ser-se tão crítico e implacável consigo mesmo que, terminadas as horas do expediente, vai-se beber uns copos sozinhos para tentar adormecer a culpa dentro de si.

Perante um evento feliz, não conseguir experienciar essa felicidade. Não se sentir merecedor dessa felicidade. Perante rasgados e merecidos elogios, não os conseguir interiorizar e encaixar. Ainda assim, aceitar tudo com um sorriso rasgado enquanto se sente morrer por dentro.

Acordar de manhã sem vontade de ir trabalhar, completamente de rastos e, mesmo assim, ir para o trabalho, fazer tudo aquilo que lhe compete e mais alguma coisa, ajudar os colegas, ter conversas parvas e outras mais sérias, rir e fazer rir. Sair da empresa e deixar-se inundar por toda aquela nuvem negra que faz tão mal, mas que serve tão bem. Chegar a casa e esperar que o sono venha porque não há nada mais por que ansiar.

Ter dias produtivos em que se consegue fazer tudo e mais um par de botas, começar o dia de forma positiva, com bom humor, comer de forma saudável e, com gatilhos ou sem eles, tudo desmoronar como um castelo de cartas sem ninguém dar por isso. E esse gatilho, ou "trigger", pode ser uma palavra, um gesto, a forma como se diz, ou o que não se diz. Não é preciso serem grandes coisas, sãs as pequenas que nos vão corroendo por dentro.

Ser o trabalhador/estudante/pai/mãe exemplar e duvidar SEMPRE de nós. De tudo. De todos. E já não conseguir respirar ou pensar como deve ser e passar a noite acordado a pensar em tudo o que se fez naquele dia e no decorrer dos últimos 10 anos, a passar todos os momentos a pente fino e perceber onde é que se errou, de que forma se podia ter feito diferente, de como somos uns impostores e não merecemos nada do que temos.

Usar a desculpa de ter de ir à casa de banho só para passar 10 minutos sem ninguém à volta porque todos os sentidos estão em alerta e todos os estímulos tornam-se demasiado avassaladores. Pedir desculpa por tudo. Pedir para repetir o que a outra pessoa disse porque a ansiedade é tanta que já perdermos o fio à meada da conversa. E pedirmos desculpa outra vez.

 

Acordar todos os dias e fazer tudo outra vez.

E tantas outras coisas mais que podia estar aqui a elencar e nunca mais acabava este post. Aqui ficam mais algumas sugestões:

18 Secrets of People With "High Functioning" Depression

What are the signs of "high-functioning" depression and could you have it?

What "high-functioning" BPD actually "looks" like

21 Habits of people with "high-functioning" anxiety

 

04 de Maio, 2019

Há dias lixados...

D.M.

Há dias em que acordamos a pensar que vamos fazer mil e uma coisas. Acordamos com a disposição necessária para fazer tudo e mais alguma coisa, para finalmente atacarmos aquela lista de coisas a fazer há imenso tempo. Há dias em que nos levantamos, tomamos banho, fazemos o pequeno-almoço e sentimo-nos com toda a energia do mundo para fazer o que quisermos.

 

Depois almoçamos, vemos uma série enquanto comemos, arrumamos tudo, fazemos a cama, limpamos e... e a energia foi-se. Aquela pica toda com que começámos o dia esvai-se como areia por entre os dedos. Com esforço, sentamo-nos no sofá com o computador à frente, olhamos novamente para a lista de coisas que temos para fazer e cada tarefa nos parece incomensurável. Demasiado pesada para aquele momento. O mais pequeno esforço torna-se avassalador. 

 

E aí recebemos uma mensagem de alguém de quem gostamos. Pensamos "valha-nos a existência de amigos para momentos assim!", mas a mensagem é para dar apoio, não para o receber. E sentimo-nos carentes, vazios, invisíveis. Sozinhos. Não, a outra pessoa não sabe que estamos sentados e aconchegados num monte de merda, porque se não dissermos ele também não vai adivinhar. Mas por momentos desejamos que essa pessoa (seja amiga, amigo, namorado, namorada, irmão, tia, vizinho, etc.) tenha o tamanho da nossa sensibilidade e intuição e perceba que não estamos bem. Que cada "lol" é escrito, mas não sentido. Que cada piada para ajudar a levantar a moral na outra pessoa é sentida como uma facada no peito em nós.  Que só precisamos de um pouco mais de carinho, de colo, de paciência e atenção. Só que a outra pessoa nem sequer sabe como fazê-lo e, por isso, acabamos por manter o nosso vazio para nós. Porque ter uma resposta inadequada fere mais do que manter a outra pessoa na ignorância.

 

E assim vamos passando por entre os dias. Com música, com séries, com a escrita, enrolados no sofá com os estores descidos, porque a luz e o calor lá fora parecem cegar e queimar esta nossa existência que é, ao mesmo tempo, tão frágil e tão resiliente.