Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

28 de Abril, 2019

12 passos para cuidar melhor da saúde mental

D.M.

Como tratar da nossa mente em 12 passos.jpg

Os posts sobre cuidados com o corpo são mais que muitos: alimentação, exercício, dietas, mil e uma ideias para que tenhamos um estilo de vida mais saudável. Mas quantos posts e artigos vêem sobre cuidados com a saúde mental? Afinal, o ditado "mente sã em corpo são" não existe por acaso e cuidar da nossa mente e das nossas emoções é tão importante como cuidar do nosso corpo. Por isso, deixo-vos aqui algumas sugestões que resultam comigo, mas sintam-se à vontade para partilhar nos comentários o que resulta convosco! 

 

  1. Um banho/duche quente - Eu não tenho banheira, mas sinto-me sempre uma pessoa nova depois de um duche quente. Seja de manhã, seja ao fim da tarde, um duche quente faz-me sentir mais calma e revitalizada. De manhã faz-me sentir que consigo fazer a lista de coisas que tenho para fazer durante o dia, fico mais arrebitada, e ao final do dia acalma-me, sinto-me mais descansada  e isso envia sinais ao meu cérebro para começar a abrandar.
  2. Dizer exactamente o que se pensa - Se tiverem alguém a quem dizer isto, melhor. Seja um familiar, um amigo, um terapeuta, alguém em quem confiem e que saibam que não vão ser julgados. Se não tiverem ninguém, escrevam, ponham em palavras o que vos vai na alma, criem uma conta de instagram, um blog, o que quer que vos sirva melhor para alivia a bagagem emocional que carregam.
  3. Não tentem agradar a todos - Isso é impossível. E se isso significar trairem-se a vós próprios, ainda pior. Sejam verdadeiros à vossa essência, ao momento pelo qual estão a passar e dêem-vos essa prioridade. Vocês também têm direito ao vosso tempo e ao vosso espaço.
  4. Não tenham medo de dizer "Não" - Criar limites é saudável. Pode ser difícil e eu sei bem o quão difícil pode ser, mas é necessário. Dizer que não para nosso bem pode ser das melhores coisas que fazemos por nós - dizer que não àquela saída à noite com amigos, ou àquele almoço de família, ou a uma ida ao centro comercial, pode ser o melhor que podem fazer. Se tiverem de inventar uma desculpa para que as outras pessoas aceitem ou compreendam melhor, tudo bem. Não vejo problema nisso. Não são piores pessoas por isso, estão somente a reconhecer os vossos limites e a reclamar esse tempo e espaço para vocês.
  5. Não tenham medo de dizer "Sim" - Parece que me vou contradizer, mas dizer que sim quando estamos na mó de baixo também é bom - há que saber identificar quando é mais benéfico dizer que "sim" ou que "não". Às vezes aquela saída, aquele passeio, aquela conversa disparatada com o vosso melhor amigo, aquele telefonema pode ser o que vos ajuda a sair do buraco. Porque há uma diferença entre o saber estar com as nossas emoções e criar limites para que sejamos verdadeiros à nossa essência, e o chafurdar no sofrimento. 
  6. Libertem-se do que não podem controlar - Vai haver sempre coisas que não podem controlar e não vale a pena preocuparem-se com elas. Eu sei que é mais fácil dizer do que fazer - eu também sofro com ansiedade, lembram-se? Mas treinem a vossa mente dizendo isto. Tomem as rédeas daquilo que podem controlar e libertem-se, deixem ir aquilo que não podem. Entreguem. Confiem em vocês mesmo, sabendo que vão fazer o melhor que podem.
  7. Distanciem-se dos dramas e da negatividade - Seja na vida real, seja nas redes sociais. Afastem-se daquilo que não precisam. Se isso significa deixar de seguir pessoas ou bloqueá-las nas redes sociais, assim seja. Se isso significa não irem ao almoço de família com gente que passa a vida a discutir uns com os outros, que seja. Se vocês já não estão bem, não precisam de ficar ainda piores.
  8. Confiem nos vossos instintos - Temos ainda alguma dificuldade em fazer isto porque temos tantas interferências externas a dizer o contrário, que já nem confiamos em nós próprios. Normalmente já temos as respostas todas dentro de nós, basta sabermos ouvir e confiar. 
  9. Façam mais coisas de que gostem - Leiam, vejam filmes e séries, meditem, tirem fotografias, pintem, escrevam, cantem, dancem, façam caminhadas - façam coisas que vos preencham! Passamos mais horas a trabalhar do que a fazer o que gostamos - isto para aqueles que têm trabalhos que não gostam, claro. Mas isso não significa que a vossa vida seja só isso. Podem fazer outras coisas no vosso tempo livre e isso pode ser terapêutico, libertador e o que realmente dá voz ao vosso Eu.
  10. Arrumem/limpem o vosso espaço - Se isso exigir muito de vocês, não o façam. Não é por uma semana que não limpam ou não arrumam que o mundo vai acabar. Também acontece comigo. Mas arrumar e/ou limpar a casa ajuda-me a manter um sentido de ordem na minha mente. Em alturas em que estou mais ansiosa ou stressada, ajuda-me a obter algum sentido de controlo na minha vida, para além de que se estiver num espaço que está minimamente limpo e arrumado consigo pensar melhor.
  11. Sejam bondosos e pacientes convosco - Se já chegaram até aqui, é porque conseguiram provar a vocês mesmos que conseguem passar pelos momentos piores e sobreviver. Tenham paciência com vocês mesmos, respeitem os vossos ritmos, os vossos limites, conversem com vocês como se tivessem a falar com alguém que estivesse a passar pelo mesmo. Dêem-se ao luxo de pensar "estou a fazer o melhor que posso e a mais não sou obrigado", mesmo que o melhor que possam fazer é levantarem-se da cama todos os dias e ver o que o dia tem para vos oferecer. E se isso for passar o dia a ver Netflix, que seja! 
  12. Se não conseguirem fazer nada disto, não faz mal! - Não são piores pessoas por isso, não estão a falhar, não são inúteis. Pode haver outras coisas que resultam melhor para vocês, podem não estar para aí virados, podem fazer o que quer que seja vos dê na telha. Dêem-se um desconto, lembrem-se que todos os dias fazem o melhor que podem e se chegaram até aqui, isso é mais do que suficiente. 
25 de Abril, 2019

Dissociação - Estou, mas não estou

D.M.

IMG_0036.JPG

(imagem e blog da artista aqui)

aqui falei sobre ansiedade. Alguns dos sintomas mais recorrentes de alguém com um ataque de ansiedade são: transpiração excessiva, perturbações gastro-intestinais, insónias, pulsação cardíaca acelerada, sensação de que tudo está acelerado, de que estamos a perder o controlo, falta de foco, dificuldade de concentração. Um dos sintomas menos falados é este: a dissociação, que também está ligada à personalidade borderline e à depressão.

 

O que é a dissociação? Pode ser  uma resposta extrema à ansiedade, um mecanismo de defesa da mente perante um trauma ou a gatilhos relacionados com esse trauma. É a ausência de ligação ao momento presente e é algo que acontece de forma inconsciente. É uma experiência muito estranha, porque parece que estamos fora do nosso corpo a ver a vida desenrolar-se. Por vezes essa desconexão é tal, que não nos lembramos do que fizemos, dissemos, do que se passou há cinco minutos atrás. A dissociação é, então, um processo mental inconsciente que provoca uma falta de ligação aos pensamentos e emoções de alguém. Pode durar umas horas, dias, semanas. 

 

É como se entrássemos num "overload" emocional/mental, que pode ser provocado por situações externas ou factores internos, fazendo com que a nossa mente se desligue. É mais do que não sentir nada. É como estar em piloto automático sem qualquer controlo sobre o que fazemos ou dizemos. É andarmos e fazer um esforço consciente de "pé direito, pé esquerdo, tem atenção aos carros, não vás contra as pessoas, controla o teu rosto, parece o mais normal que conseguires". É estar tão desligado das conversas que têm à nossa volta que nos limitamos a acenar com a cabeça e a imitar as reacções que os outros têm à nossa volta perante uma piada, uma conversa banal sobre futebol, sobre férias ou aquela colega de trabalho que é tão chata. E por mais que queiramos estar cá, não conseguimos. Parece o extremo oposto da ansiedade, mas no fundo pode ser um sintoma da presença dela. É como se a mente desligasse perante situações extremas com as quais não sabe ou não consegue lidar, entrando em modo automático e de poupança de energia. É a inabilidade de pensar, de raciocionar, de sentir, quase alternando entre personalidades ou até ter um sentido instável de nós mesmos.

 

Por vezes, a dissociação também é conhecida por despersonalização. A realidade parece estranha, parece que estamos a pairar noutro espectro dessa realidade, estamos apáticos e não confiamos na nossa memória porque não temos a certeza se algo aconteceu ou não. Há um distanciamento emocional e cognitivo que não conseguimos controlar e estamos perfeitamente conscientes disso. As primeiras vezes que nos apercebemos disto pode ser assustador porque é quase como se estivessemos fragmentados. É estranho dizer isto, mas uma vez habituados à sensação é como se ela encaixasse que nem uma luva no que estamos (ou não) a sentir. É como uma velha amiga que nos vem visitar e que nos conhece tão bem. E por nos conhecer tão bem, deixamos que ela dirija a vida por nós. Porque estamos cansados e aquele colo de nada serve-nos tão bem. E é aqui que podem entrar, também, processos de auto-destruição numa tentativa de voltar à realidade, mas isso fica para outro post.

 

Se experienciam estes sintomas, falem com o vosso psicólogo/terapeuta/psiquiatra. Não estão "malucos" e não são os únicos a passarem por isto. E, parecendo que não, isto tem solução e há formas de conseguirmos ultrapassar estes momentos. Comigo a medicação funciona (ansiolítico) e também uso alguns truques para me "enraizar" e sentir que não estou a perder o controlo. São pequenas coisas que, parecendo que não, ajudam: mexer os dedos dos pés, esfregar as mãos uma na outra, beber água, ter objectos nos bolsos para poder mexer neles (papéis, pequenas pedras, ganchos de cabelo, moedas), fazer estalar um elástico no pulso. Se têm outros truques ou passam por isto também, comentem!

 

Atenção: antes de se diagnosticarem a vocês próprios com o que lêem aqui ou noutros sites, falem com um profissional. Eu não sou médica, sou apenas alguém que vem aqui partilhar convosco as minhas experiências na esperança de que nos sintamos todos menos sozinhos.

 

Têm sempre a wikipédia para saber mais sobre estes assuntos, mas prefiro deixar-vos aqui com outras fontes:

Dissociação: um fenômeno curioso da nossa mente

Transtorno de despersonalização/desrealização

What is dissociation in Borderline Personality Disorder?

What it's like to experience 'Emotional Dissociation'

 

 

22 de Abril, 2019

O que as pessoas não percebem sobre Personalidade Borderline

D.M.

Há uns dias decidi contar à minha melhor amiga que tenho personalidade borderline (TPB). Para quem não sabe o que é, vejam o meu post sobre isso e este site em português. De todas as reacções e cenários que imaginei na minha cabeça, aquilo que aconteceu foi completamente inesperado. Incompreensão, não-aceitação, não-validação e julgamento através da bitola de sofrimento dela. Dor é dor. Sofrimento é sofrimento. As comparações não fazem sentido, não trazem nada de positivo e são injustas. Não andamos aqui a competir para ver quem é que passou por situações piores, quem é que sofreu mais, ou outras coisas do género. Devíamos estar uns para os outros, para termos empatia e compaixão pela dor do outro e isso não aconteceu comigo. Por isso, inspirada em vários artigos cujos links deixarei no final deste post, aqui ficam algumas coisas que as pessoas não percebem sobre aqueles que, como eu, sofrem com TPB.

 

  • Não fui à internet ler, nem acordei um dia a dizer que sou Borderline - Eu tenho acompanhamento terapêutico, tomo medicação e a minha terapeuta, que me conhece desde a adolescência, fez um diagnóstico. Ela também não foi ler umas coisas à net e lembrou-se disto num dia. Pôr em causa o meu diagnóstico, o meu processo terapêutico e a minha terapeuta só me vai fazer fechar-me mais sobre mim própria. E tal como acontece comigo, acontece com outros, de certeza.

 

  • Não sou uma vítma, nem me estou a armar numa - Não estou a arranjar desculpas, não me estou a armar em vítima, não estou a tentar chamar a atenção, nem quero que tenham pena de mim. Dizerem-me coisas como "e agora, vais deixar que isso te condicione?" cai em saco roto porque o TPB não é algo que eu tenha escolhido ou que tenha um botão de ligar/desligar. Condiciona e sempre condicionou a minha vida, mesmo antes de ter um diagnóstico. Há momentos melhores, há momentos piores e eu tenho de viver com isso, quer queira quer não.

 

  • Sou mais sensível e todas as minhas emoções são mais intensas: para o bem ou para o mal. Mas não sou dramática - Basta dizerem-me que não concordam, basta não me responderem naquela altura à mensagem que mandei, basta dizerem-me algo mesmo em tom de brincadeira, que eu vou ter vontade de cagar de alto para essa pessoa e não a querer ver mais. Uma piada, um olhar, um gesto, uma reacção que pode ser perfeitamente normal, eu vou sempre tomá-la como pessoal, vou extrapolar as suas proporções e vou sentir-me a maior merda do mundo. Não estou a ser dramática, não me estou a armar em coitada. É como se as minhas emoções estivessem desreguladas. É assim, sempre foi, e faz parte desta condição. Por isso faço terapia.

 

  • Às vezes sinto tudo ao mesmo tempo, às vezes não sinto nada, às vezes sinto várias coisas no decorrer de algumas horas - mudanças repentinas de humor, ou "mood swings". Vocês não têm de lidar com isso, mas eu tenho. Dêem-me um desconto ou ponham-se a milhas. Ou abracem-me. Para vos dar um exemplo muito concreto: no dia em que contei isto à minha amiga e ela menosprezou tudo o que lhe disse, a seguir senti-me ansiosa, triste, depois eufórica, fui comprar uma câmara fotográfica nova, depois fiquei deprimida, senti-me culpada, abandonada, cansada, cheguei a casa e vi A Guerra dos Tronos, senti-me como se nada tivesse acontecido e no fim fui dormir a sentir como se tivesse sido atropelada por um comboio. Relacionado com isto, há uma coisa chamada disassociação. É como se eu estivesse de fora a ver as coisas acontecer, como se não estivesse bem cá, como se estivesse fora da realidade. Nessas alturas tenho de fazer um esforço extra e consciente para me manter com os pés assentes na terra, para parecer alguém que vive neste mundo e que não se está a desligar, tanto a nível físico, como emocional e mental.

 

  • Passo muito rapidamente de "adoro-te, és a melhor pessoa da minha vida" para "não posso olhar para a tua cara, desaparece-me da frente" - E a maior parte das vezes as pessoas nem percebem, porque isto tudo se passa dentro de mim e tenho de resolver comigo mesma. Aprendi a não ser mal-educada, a não fazer mal aos outros e a manter este tipo de coisas para mim mesma, portanto a outra pessoa só se aperceberá disso no momento em que eu viro costas e vou-me embora, quando páro de tentar porque já não tenho forças. Paciência e compaixão é o que se pede, embora saiba que não é fácil. E tenho tendência para pôr as culpas todas em mim, claro, e a espiral descendente começa e pronto, tá tudo estragado. Quero mudar de vida, de emprego, de amigos, de sítio, de tudo.

 

  • Eu tenho noção dos meus defeitos, das minhas falhas - Não preciso que me lembrem disso porque eu sou a minha maior crítica. E isto facilmente se torna em paranóia, em sentimentos de rejeição, de inutilidade e até de auto-destruição. Estou sempre em alerta em relação ao que faço e às reacções dos outros sobre aquilo que faço. Posso parecer egocêntrica, mas eu sei que o mundo não gira à minha volta. Mas o TPB faz com que pareça que sim, e nunca é para as coisas boas, é sempre para as coisas más. O TPB não é algo comportamental, mas sim emocional e a maior parte das vezes sentimo-nos incompreendidos e sozinhos, isolados.

 

  • Também sou muito mais do que isto -  o TPB condiciona a minha vida, mas eu também sou uma pessoa para além disso tudo que merece ser amada, respeitada e querida. Sou uma excelente amiga, sou boa ouvinte, inteligente, que gosta de conversas profundas e sentidas, que não tem paciência para andar a dizer mal dos outros, criativa, que me atiro de cabeça quando gosto de alguém, que gosta de cuidar e ajudar os outros, que só não faço algo por outra pessoa se não puder. 

 

Todos lutamos batalhas dentro de nós sobre as quais as outras pessoas não sabem nada. Sejam gentis com todos.

 

Inspirações para este artigo:

What people don't understand about those with Borderline Personality Disorder

What do most people NOT understand about Borderline Personality Disorder

People must make more of an effort to understand Borderline Personality Disorder

18 de Abril, 2019

Como criar um espaço seguro para um desabafo

D.M.

Como criar um espaço seguro para um desabafo.png

Não são raras as vezes em que outras pessoas confiam em nós com os seus desabafos, problemas, com os seus fardos. Nós também o fazemos, temos pessoas em quem confiamos aquilo que temos de mais íntimo e, por vezes, assustador. E não são raras as vezes que não sabemos bem como reagir, pelos mais variados motivos: porque não nos identificamos, porque nunca passámos por uma situação semelhante, porque a notícia é tão chocante que nos apanha desprevenidos e não sabemos bem o que dizer ou fazer, ainda que queiramos fazer e dizer a coisa certa. Então aqui ficam umas dicas sobre como criar um espaço seguro para que a outra pessoa se sinta confortável em partilhar o que quer que seja convosco.

 

  1. "Lamento que estejas a passar por isso" - Em vez de se lembrarem de "n" histórias de como outras pessoas, ou até vocês mesmos, passaram por momentos piores, criem empatia. Compaixão. Ouçam ao outra pessoa e validem a sua dor, seja ela qual for.
  2. "Estou a ouvir-te" - Levem o tempo que for preciso para a outra pessoa desabafar. Deixem-na dizer tudo aquilo que lhe vai na alma e ouçam. Ouçam com atenção - não olhem para o relógio, para o telemóvel, para a chuva lá fora. Para além de criarem espaço, criem tempo só para ouvir aquela pessoa.
  3. "Nem imagino o que estás a sentir" - Não tentem animar a outra pessoa com a vossa história ou com a história de alguém que passou pelo mesmo. As pessoas passam pelas mesmas coisas e têm formas diferentes e únicas de as sentirem e de ultrapassá-las. Cada caso é um caso e cada luta é uma luta.
  4. "O que posso fazer por ti? / Do que precisas?" - Em vez de oferecer soluções ou de tentarem resolver o "problema" sem que vos seja pedido, perguntem o que a outra pessoa quer e precisa. Às vezes não podem fazer nada a não ser ouvi-la, mostrarm compaixão e apoiá-la. Às vezes é só disso que precisamos: de alguém que nos ouça, de sentirmos empatia e de saber que a outra pessoa está lá para nos ajudar e apoiar, mesmo que seja só com um ombro para chorar ou para uma conversa.
  5. Ouvirem com atenção sem interrupções - Não interrompam, não tentem virar a conversa para vocês, não assumam o controlo da conversa. O foco não são vocês, é a outra pessoa que está a falar. Deixem-na desabafar e dizer tudo o que lhe vai na mente e no coração. Absorvam e ouçam atentamente. Essa pessoa está a confiar em vocês por alguma razão.
15 de Abril, 2019

A facilidade com que relativizamos o nosso sofrimento

D.M.

"Ah, há pessoas que passaram por pior do que eu..."

Quantas vezes dizemos isto? Quantas vezes achamos que estamos a ser mal-agradecidos, picuinhas, "mariquinhas", porque estamos a sofrer e nos comparamos com os outros? Eu faço-o. Sou culpada disto também. Isto não ajuda em nada e só nos faz sentir mais desadequados, mais sozinhos - e até mais culpados.

 

Claro que o abuso, o sofrimento, é maior para umas pessoas e menor para outras. Se partires uma perna, vai doer p'ra caraças, que é para não dizer outra coisa. Mas se partires um pé, também vai doer p'ra caraças. Ambas as situações doem. Por isso, as comparações entre o nosso sofrimento e o sofrimento alheio cai em saco roto. A fractura da perna parece ser pior porque a superfície da perna é maior quando comparada com a do pé, mas isso não quer dizer que a fractura do pe é indolor. Se compararem o vosso sofrimento com o de outra pessoa, ou se a outra pessoa vos disser algo do tipo "mas o Manel passou por muito pior...", isso não vai ajudar a amenizar a vossa dor. Uma coisa não cancela a outra, não diminui a outra.

 

Todas as dores são válidas e têm razão de ser. Umas são mais visíveis do que as outras, mas as que são menos visíveis têm tanta razão de ser como as outras. Não se diminuam. Não se sintam culpados pela vossa dor. E não deixem que os outros façam isso com vocês.

12 de Abril, 2019

Eu sou Borderline

D.M.

Porque às vezes há formas de descrever o que somos e sentimos melhor do que as nossas próprias palavras. Aqui fica um vídeo sobre o que é viver com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) que explica tudo tão, mas tão bem. E este transtorno é tão pouco conhecido e tão pouco falado quando comparado a outros transtornos.

 

O vídeo que aqui partilho convosco foi realizado por Betsy Usher em associação com a Wright Institute of Los Angeles. Este pequeno vídeo intitulado "I Am Borderline" faz parte de uma campanha para ajudar a reduzir o estigma do TPB.

 

Um último aviso: este vídeo pode conter GATILHOS (TRIGGER WARNING).

(o vídeo tem legendas em português, basta seleccioná-las)

 

09 de Abril, 2019

Depressão - Muito mais do que tristeza

D.M.

imgHandler.ashx.jpeg

(fonte)

 

Quantas vezes ouvimos dizer "Estou tão deprimida!", sem que a pessoa perceba sequer o que está a dizer? Muitas vezes o estar triste é sinónimo de estar deprimido, quando a verdade não é essa. A tristeza é uma emoção normal, saudável e adequada. Mas, para mim, estar deprimida é não sentir nada. Não sentir alegria nem tristeza, nem prazer pelas coisas que faço, uma sensação de vazio e desmotivação. A maior parte das vezes ou não consigo dormir de todo, ou durmo demasiado, como muita porcaria ou como pouco. O mundo fica em câmara lenta e eu não consigo acompanhar nada. Sinto-me descompassada. 

 

Lembro-me de ser uma pessoa muito melancólica desde criança e lembro-me de passar por todas estas sensações ainda adolescente, talvez com 15/16 anos. As coisas relacionam-se todas umas com as outras, e foi uma mudança de escola, sem colegas conhecidos que despoletou não só a minha ansiedade, mas também a depressão. Muitas vezes as duas estão relacionadas e ambas dificultavam a minha vida e limitavam o que eu fazia. Cheguei a ter dificuldade em sair de casa (ainda hoje, de vez em quando, luto com isso), a entrada na faculdade foi horrível e sofri bastante com isso. Todos estes grandes momentos trouxeram ao de cima todas essas emoções (ou a falta delas). Mas não é preciso grandes acontecimentos na vida para que a depressão se manifeste. Às vezes está lá em segundo plano à espera de um momento, por mais insignificante que possa parecer, para aparecer.

 

A depressão é um transtorno mental e tem sintomas, por isso tenham atenção da próxima vez que dizem com a maior ligeireza do mundo "estou deprimido" só porque estão tristes ou a vida não corre como queriam. Alguns dos sintomas são estes:

  • Tristeza profunda, por vezes sem razão aparente
  • Ausência de prazer ou interesse em actividades que antes gostavam
  • Mudanças de apetite - comer em demasia ou falta de vontade em comer
  • Insónias, dificuldade em adormecer, ou dormir demasiado
  • Cansaço constante, fadiga
  • Sentir-se sem um propósito, desmotivado, vazio por dentro
  • Dificuldade de concentração, de poder de decisão
  • Isolamento
  • Apatia

 

Mais uma vez, é necessário o acompanhamento médico através de um psicólogo ou terapeuta, mas também de um psiquiatra que possa prescrever medicação adequada. Há todo um estigma sobre tomar medicação para a saúde mental, como se isso fosse um sinal de fraqueza. Mas não nos podemos esquecer que todas estas doenças também são desequilíbrios químicos no cérebro. E tal como alguém com problemas cardíacos, ou com gripe ou com uma dor de estômago tem de tomar medicação para melhorar, também nós temos de tomar medicação para o nosso cérebro conseguir funcionar melhor. E não há que ter vergonha disso.

 

A depressão não se vê, mas isso não significa que ela não esteja lá. Não é uma escolha, pode acontecer a  qualquer pessoa e não há um botão de "ligar/desligar". A maior parte das vezes, aqueles que a têm sentem-se sozinhos, inúteis, incompreendidos. Sendo alguém que passa e já passou por isso, o que precisamos é só de alguém que nos ouça, que se interesse por nós e pergunte "como estás" com a vontade de quem realmente quer saber e ouvir com atenção. A nossa dor e o nosso sofrimento, seja qual  a sua causa, é válido e real. É emocional e não racional e, por isso, necessita de uma resposta emocional. Sejam bondosos. Aceitem. Mantenham a linha aberta para quem possa estar a passar por isso sentir que pode confiar e abrir-se.

 

Mais posts virão sobre este assunto, mas uma coisa de cada vez.

07 de Abril, 2019

Bom domingo!

D.M.

Tu és mais do que o teu diagnóstico.png

 

Por mais importantes que sejam os diagnósticos, por mais que validem o que sentimos e o que vivemos, não nos podemos esquecer de que somos mais do que isso. 

 

E só por hoje: descansem, façam uma coisa de que gostem, embrulhem-se nas vossas mantas, aconcheguem-se com os vossos animais, vejam filmes ou séries, leiam, ouçam música, o que for. Dediquem-se a vocês.

Passei aqui só para vos lembrar disto.

 

Tenham um bom domingo!

05 de Abril, 2019

Ansiedade - Não a temos todos? Sim e não.

D.M.

Ansiedade. Toda a gente sabe o que é a ansiedade. Basta sermos colocados numa situação fora da nossa zona de conforto para sabermos o que é. Sentimo-nos nervosos, um pouco contrariados por nos encontarmos numa situação de que não gostamos, é algo que nos põe desconfortáveis tanto a nível físico com psicológico. A ansiedade é algo natural, que todas as pessoas sentem e é saudável - responsável pela nossa resposta de "fight or flight", que é como quem diz "enfrentar ou fugir". É por causa dela que nos preocupamos com as pessoas de quem gostamos, com a nossa situação profissional ou pessoal, é ela que nos alerta de possíveis perigos iminentes. Ficamos com o coração acelerado, transpiramos em demasia, gaguejamos. Tudo isto é normal.

Até certo ponto.

 

Quando é que isto se torna problemático e elevado à categoria de transtorno mental? Quando nos afecta no dia-a-dia, quando nos impede de fazer as coisas mais corriqueiras e banais, quando nos verga à sua vontade e nos torna reféns dela. Nesse sentido, não há só um  transtorno ligado à ansiedade. Há vários: transtorno do pânico, ansiedade social, transtorno de ansiedade generalizada e algumas fobias. E como é que tudo isto surge? Há vários factores, vários "triggers" ou gatilhos: acontecimentos da vida de cada um, traumas, a forma e o ambiente em que fomos criados, pré-disposição genética. Todos estes elementos terão de ser analisados sob um ponto de vista médico, por um psicólogo ou psicoterapeuta, eventualmente com a ajuda também de um psiquiatra, para que haja um diagnóstico e a resposta mais adequada para cada um. E aqui não há um modelo que sirva para todos, como umas meias que servem para todos os tamanhos. Cada pessoa é um caso único, com as suas experiências, personalidade e tudo isso tem de ser tido em conta. Há quem tome medicação, há quem não tome. Há quem faça diferentes tipos de terapia, e cada um sabe o que lhe serve melhor.

 

Como é a minha experiência?

Ora, eu tenho transtorno de ansiedade generalizada, quando levada ao extremo gera ataques de pânico e também tenho ansiedade social. Em que medida isto me afecta? Praticamente todos os dias e na maior parte das situações que vivo. Desde ir a almoços de família ou com amigos, tarefas relacionadas com o meu trabalho, andar nos transportes públicos, reuniões, viagens, tudo. O meu nível de ansiedade está sempre mais elevado que o da maioria das pessoas. É mais ou menos isto que a tabela abaixo mostra tão bem:

anxietychart.png

(fonte)

O meu estado normal é um nível 4 ou 5. Se houver uma crise, vai por aí acima. A tabela é bastante simplista, mas acho que dá para ter uma ideia para aqueles que não fazem ideia do que estou a falar.

 

O que é que isso me traz? Medos e angústias que, por mais que eu saiba que são racionalmente infundados, me afectam a nível mental e emocional. Dificulta-me todas as minhas interacções sociais, quer sejam com pessoas que conheço ou não. Por vezes manifesta-se num estado de irritação e raiva sem razão aparente. Fico impaciente, tenho dificuldade em concentrar-me e em fazer as tarefas mais banais. Também se manifesta fisicamente - todos os músculos da coluna ficam tensos, tenho insónias, normalmente deixo de conseguir comer e os meus intestinos ficam descontrolados. E isto não é uma coisa de cada vez. Imaginem isto tudo ao mesmo tempo! Não é uma festa?

 

Claro que há dias melhores e há dias piores. Sei quais são os meus "triggers", sei como agir e minimizar todas estas sensações. Tomo medicação, tento dar atenção aos sinais que o meu corpo me vai dando e controlar tudo aquilo que conseguir controlar, tenho planos A, B, C, de todas as letras do alfabeto para saber o que posso fazer se surgir a situação X. Porque a ansiedade também está ligada ao controle e saber que posso fazer algo se me deparar com uma determinada situação já é o suficiente para me acalmar. E isso pode ser a medicação, pode ser uma frase feita, pode ser uma atitude, pode ser o saber que há uma casa de banho perto e não me vou desfazer em merda à frente de todos, ou até qual a porta de saída onde posso ir ventilar um pouco. Estar na rua ajuda sempre, principalmente se estiver frio.

 

Mais à frente irei desenvolver alguns destes elementos que menciono, mas isto é o que a ansiedade generalizada, os ataques de pânico e a ansiedade social me trazem. Trazem dificuldades, sem dúvida. Trazem momentos em que eu penso "mas porque é que não podia ser mais fácil?!". Mas também me trazem uma forma mais completa e complexa de ver o mundo. Com muito mais cores e perspectivas. Provavelmente com mais empatia e entendimento do sofrimento dos outros.

 

E como o post já vai longo, estejam atentos aos próximos capítulos! Comentem, façam perguntas, partilhem a vossa experiência e sejam bondosos uns com os outros.

03 de Abril, 2019

O que é isto do Sensível Mente?

D.M.

Olá a todos!

Bem-vindos a este blog. Um cantinho na estratosfera dos blogues de Portugal em particular e do mundo em geral dedicado à desmistificação e destigmatiazção das perturbações/doenças/transtornos mentais (chamem-lhes o que quiserem, é à vontade do freguês). Aqui falarei de tudo um pouco, desde a minha experiência pessoal com alguns desses transtornos, até recomendações de outros sites, de filmes, livros, citações, memes, tudo aquilo que eu achar que possa trazer algo de benéfico a mim e a todos vocês que possam identificar-se, ou não, com o que vou partilhando aqui.

 

No meu caso, chamo-me Diana. Tenho transtorno de ansiedade generalizada, ansiedade social, ataques de pânico, depressão e transtorno de personalidade borderline. Também sou uma mulher adulta, independente, que trabalha e está a acabar o doutoramento (façam figas para que seja ainda este ano!!). Sou uma mente curiosa e criativa, sensível, gosto de música, de fotografia, cinema, literatura e a forma como melhor me expresso é através da escrita. Por isso, aqui me tendes!

 

Isto dos blogues não é novo para mim, mas enquanto seguidora de vários sites, blogs, podcasts e coisas que tais em língua inglesa sobre assuntos ligados à saúde mental, percebi que em Portugal não existe nada (se houver digam-me, por favor, que eu não encontrei). Assim, decidi criar este espaço para poder ventilar, partilhar convosco o que significa viver com todas estas coisas, dar a conhecer estes transtornos que, ao contrário do que muita gente pensa, não faz de nós loucos, não faz de nós menos capazes ou inteligentes. Pode afectar toda a gente independentemente do sexo, idade, classe social, educação e ninguém tem cara de nada. Eu não tenho cara de alguém com ansiedade. Quanto muito tenho cara de alguém que gostava de ter ficado na cama mais três horas porque odeio levantar-me cedo.

 

Introduções mais ou menos feitas, aqui estou para iniciar esta jornada desta minha mente sensível. Ou sensível mente.