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Psico Coisas

Saúde Mental | Vida de Solteira | Filmes | Livros | Memes | Já disse saúde mental?

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09 de Fevereiro, 2021

10 Filmes que acertam na representação da doença mental

D.M.

Eu adoro cinema. Para além da música e da literatura, esta é a terceira arte que compõe a grande tríade de manifstaçoes artísticas que me completam. É no cinema que consigo ver reflectido visualmente, muitas vezes, o que sinto, o que escondo, de formas que eu nunca conseguiria expressar ou explicar. E como estou sempre à procura de filmes ou séries ficcionais que me falem ao mais fundo do meu âmago, decidi partilhar convosco uma singela lista de filmes que, a meu ver, retratam extremamente bem o que é viver com doença mental. Talvez porque não se fale de forma tao aberta sobre saúde mental em sociedade, procuremos nos filmes, séries e livros uma forma de nos sentirmos identificados, ou um ponto de partida para uma discussão sobre o tema. Não incluo aqui nenhum filme que não tenha visto e que, por isso, não me possa pronunciar sobre ele. No entanto, convido-vos a deixar sugestões de outros filmes nos comentários! :) 

 

1. Melancholia, Lars Von Trier (2011)

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Este é talvez dos filmes que representam o que é viver com depressão e ansiedade de uma forma visualmente assombrosa. Cinematograficamente, este filme é belíssimo, de uma sensibilidade incrível, desde os planos, à fotografia, à distorção do tempo e dos espaço, à banda sonora e prestação dos actores. Este é um filme de ficção científica sobre um planeta que está em rota de colisão com a Terra e a forma diferente como duas irmãs encaram este acontecimento.

 

2. Girl, Interrupted, James Mangold  (2000)

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Ainda hoje é um dos meus filmes favoritos da vida. Aqui, temos a história verídica de Susanna Kaysen que, na década de 60, foi diagnostigada com distúrbio de personalidade borderline e internada num hospital psiquiátrico. E é nesse hospital que conhecemos tantas outras raparigas/mulheres tão iguais e tão diferentes de Susanna. Neste filme, Angelina Jolie brilha como Lisa Rowe, e tantas perturbações mentais são aqui representadas: ansiedade, depressão, transtorno obssessivo compulsivo, distúrbios alimentares, esquizofrenia, sociopatia... Mas também é um filme sobre amizade, sobre encontrar conforto nos lugares e nas pessoas menos prováveis. Este filme é fenomenal.

Gatilhos: suicídio, auto-mutilação, menção a abuso sexual de menores, distúrbios alimentares.

 

3. Prozac Nation, Erik Skjoldbjaerg (2001)

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Mais um retrato real baseado no livro com o mesmo nome da autora Elizabeth Wurtzel sobre a sua descendência à depressão quando entra na universidade. Neste filme podemos ver com isso afecta as pessoas à nossa volta, como nos alienamos e a nossa visão passa a estar condicionada  pela doença e de como é possível "espiralarmos" sem que ninguém consiga fazer nada por nós. Foi o primeiro filme que vi sobre o tema, na altura devia ter uns 16 anos e quando o vi chorei horrores, porque pensei "não sou a única a sentir isto!".

Gatilhos: internamento em instituição psiquiátrica, abuso de substâncias, ideação suicida.

 

4. Joker, Todd Phillips (2019)

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É um vilão de um filme de super heróis? É. E como é que ele se torna nesse grande vilão? Este filme fala da alienação, da incompreensão e de como a sociedade falha no tratamento e na integração de pessoas que vivem com algum tipo de doença mental. Claro que neste filme tudo é levado ao extremo, afinal é o Joker, mas é um filme acima de tudo sobre como as instituições falham e de que forma isso tem impacto nas pessoas. 

Gatilhos: menções sobre violência contra menores, ideação suicida

 

5. Objectos Cortantes (série da HBO, 2018)

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Um crime numa cidade pequena faz com que uma antiga filha da terra, agora jornalista, seja enviada para lá a fim de escrever sobre os crimes e sobre a sua investigação. Essa jornalista é Camille (Amy Adams), que vem com mais bagagem do que aquela que se espera. Esta é uma adaptação do livro com o mesmo nome, Objectos Cortantes, de Gillian Flynn e para além de ser um thriller psicológico e um policial, é também sobre doença mental, sobre famílias disfuncionais e tóxicas, comportamentos auto-destrutivos e sobre como podemos esconder tanta coisa inimaginável para os que estão de fora. E a banda sonora é tudo.

Gatilhos: alcoolismo, violência contra menores, codependência, auto-mutilação, internamento em instituição psiquiátrica, suicídio.

 

6. Guia Para um Final Feliz, David O'Russell (2013)

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Gosto muito deste filme por várias razões. Pelos actores, pela história, e pela candura com que retratam pessoas que vivem com algum tipo de perturbação mental. Aqui temos Pat (Bradley Cooper) que sai de uma instituição psiquiátrica para voltar a viver com os pais. Pat é diagnosticado com doença bipolar e fora internado depois de uma crise relacionada com a sua ex-mulher. Pat conhece Tiffany, uma mulher que enviuvou recentemente e que, a meu ver, para além da óbvia depressão, apresenta sintomas típicos de alguém com personalidade borderline. Tiffany convence Pat a entrar numa competição de dança para recuperar a ex-mulher, mas é claro que o filme é muito mais do que isso. Gosto do humor, da crueza, dos actores a nível individual e colectivo, e de como duas pessoas tão reais navegam a realidade de viver com uma doença mental no seu dia-a-dia.

 

7. It's Kind of a Funny Story, Anna Boden and Ryan Fleck (2010)

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Este é mais um filme leve e despretencioso, com laivos de comédia, sobre um rapaz assoberbado com as escolhas que tem de fazer à saída do secundário: é a pressão dos pais, dos amigos, da escola, a sua solidão, ansiedade e desorientação em relação ao que quer fazer da vida, que levam Craig, um miúdo de 18 anos, a pensar em suicídio. Só que ele percebe que não está bem e vai às urgências de uma clínica psiquiátrica onde acaba por ser internado por duas semanas, para avaliação do seu estado mental. É aí que ele conhece as mais variadas pessoas, que estão lá pelos mais variados motivos. É um filme sobre doença mental sem ser pesado, mas também sem ser superficial demais.

Gatilhos: menção de suicídio, auto-mutilação, distúrbios alimentares

 

8. Divertida-Mente, Pete Docter (2015)

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Aqui temos um filme de animação que, creio eu, agradará a miúdos e a graúdos. É um filme sobre a importância de todas as emoções e de que forma todas são adequadas em determinados momentos para vivermos uma vida emocionalmente saudável. Mas quando a tristeza se apodera de tudo, de como é difícil ver para além dela, e de como ela acaba por influenciar tudo o que fazemos, o que sentimos, de como distorce a nossa forma de ver e de sentir o mundo, bem como as nossas memórias. É um filme adorável e que explica de forma tão simples o que é viver quando uma das emoções se apodera da nossa cabeça e  influencia tudo o que somos e o que fazemos.

 

9. O Bom Rebelde, Gus Van Sant (1997)

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Este é um dos meus filmes favoritos da vida. Aqui temos Will, um miúdo que é um génio da matemática, mas que vem de um ambiente de pobreza e disfunção familiar e social, num dos bairros pobres de Boston. E a mentalidade de bairro, bem como o seu passado traumático, impedem-no de atingir todo o seu potencial. É quando Will é preso por agredir um polícia que, em vez de tempo na prisão, o juíz decreta que tem de ter aulas de matemática com o professor que o acolhe, bem como sessões de terapia obrigatórias com alguém que, finalmente, lhe faz frente e consegue penetrar para além dos muros que Will ergueu à sua volta: o psicólogo Sean, interpretado por Robin Williams. É aí que ele enfrenta os seus demónios, se permite viver as experiências a que tem direito, e percebe que os muros que ergueu podem ser derrubados. Para mim, é um filme sobre a forma como os traumas, mesmo vividos enquanto crianças, têm um impacto enorme sobre a forma como vivemos as nossas vidas, em adultos.

 

10. O Cisne Negro, Darren Aronofsky

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Ainda que não tenha visto todos os seus filmes, sou fã confessa de Aronofsky. Alguns dos meus filmes favoritos são dele e este não é excepção. Neste thriller psicológico conhecemos Nina, uma bailarina que se prepara para estrear o bailado O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsy. Por um lado, é necessário uma protagonista que represente o ingénuo e frágil cisne branco, perfeito para Nina, e outra que represente o cisne negro - sensual e obscuro, papel atribuído à sua rival Lily, interpretado por Mila Kunis. No entanto, neste filme vemos a transformação de Nina em tudo aquilo que envolve o bailado, mas também a sua descendência à loucura, à paranóia e à ténue linha da realidade que ela tenta agarrar. Não vou dizer muito mais porque não quero dar-vos spoilers, mas este filme é assombroso. Fala-nos de ansiedade levada ao extremo que provocam paranóia e, até, alucinações e psicose, de relações tóxicas com mães narcisistas, e de como é tão difícil viver com várias doenças. 

Gatillhos: auto-mutilação, narcisismo, psicose, distúrbios alimentares